Condsef/Fenadsef
A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais se deu principalmente pelo WhatsApp e o fato desafia a oposição a se mobilizar pelo aplicativo de mensagens. A tão reivindicada “auto-crítica” que a esquerda deve fazer passa também – e principalmente – por aprender uma nova conexão com as bases, pelas vias digitais. Para entender melhor o comportamento informativo dos servidores públicos federais, a Condsef/Fenadsef realizou uma pesquisa em seu site, a qual responderam trabalhadores dos mais variados estados e órgãos, entre ativos e aposentados.
Dos participantes, 51,5% declararam que o meio de comunicação que mais utilizam para se manterem informados é a televisão, seguida pelo WhatsApp em segundo lugar, com 43,9%, e pela mídia alternativa, composta por blogs e sites independentes, com 42,4%. A imprensa sindical surpreendeu com 40,9% da preferência dos entrevistados, sucedida por Facebook e Twitter, que juntos computaram 36,4%. Rádio e jornais impressos empataram com 28,8% cada, e o Youtube apareceu com 19,7%. 12% disseram ter o costume de ouvir podcasts. 54,5% dos participantes declararam ter entre 40 e 59 anos.
Pesquisa anterior
Não é de hoje que o WhatsApp aparece como um dos meios de comunicação mais procurados pelos servidores públicos federais como fonte de informação. Já em 2016, pesquisa realizada pelo Dieese a pedido da Condsef/Fenadsef, focada na base da Confederação, mostrou que 84,1% dos trabalhadores engajados nas redes sociais usavam preferencialmente o WhatsApp, enquanto o Facebook computou 76,8% dos usos. À época, o Youtube teve mais adeptos, com 39%, enquanto Twitter atingiu a marca de 10%.
A análise comparativa entra as pesquisas mostra que o acesso ao site da Condsef/Fenadsef cresceu nos últimos 3 anos. Se os dados levantados pelo Dieese apontavam que 16% das pessoas tinham hábito diário de acessar a página da Confederação, este ano o número aumentou para 39,4%. 27,3% dos participantes ainda afirmaram acessar a página semanalmente.
Mobilização urgente
Se o Facebook mobilizou a população nas manifestações de junho de 2013, é a vez do WhatsApp tomar o protagonismo na organização social. Foi pelo aplicativo de mensagens, por exemplo, que caminhoneiros deflagraram greve. Matéria da BBC Brasil sobre a paralisação dos caminhoneiros detalha como foi feita a construção, a partir do depoimento de um motorista: “A gente viaja o Brasil inteiro e vai conhecendo outros caminhoneiros. Quando chega no posto para dormir, a gente conversa, troca o (número de) WhatsApp. Aí, quando chegou a greve, já havia vários grupos montados e a gente distribuiu a informação. O Whatsapp facilitou demais a nossa comunicação. Antes, a gente era desconhecido. Agora, o pessoal faz um vídeo e, em dois minutos, já espalhou pelo Brasil”. A negociação para suspensão da greve também se deu pelo WhatsApp.
No ano passado, o aplicativo bateu recorde e superou 1,5 bilhão de usuários no mundo, número que ultrapassa os acumulados pelo Facebook. De todos os países, o Brasil é um dos que mais movimentam a plataforma, com mais de 120 milhões de internautas. Os dados derrubam os argumentos resistentes à atuação online na mobilização social, que alegam falta de acessibilidade e elitismo das plataformas. Segundo pesquisa do IBGE divulgada em fevereiro de 2018, 94,2% dos brasileiros usam internet para trocar textos e imagens.
Já em 2005 o Instituto tinha números interessantes, quando constatou que 71% das pessoas informaram usar a internet para “educação e aprendizados” e 68,6% para “comunicação com outras pessoas”.
‘Não dá para ficar de fora’
Para a professora de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará, Helena Martins, é inegável os efeitos da mobilização pelo WhatsApp na eleição de Bolsonaro e, considerando uma nova esfera pública pautada sobretudo pelas redes sociais, não dá para a esquerda ficar por fora dessa atuação. Segundo a pesquisadora, a direita entendeu a potência do aplicativo há muito tempo.
“É fundamental que a gente incorpore o WhastApp nas nossas intervenções, sobretudo para poder falar para fora. Boa parte da sociedade tem consumido e acessado informações pelo WhatsApp, e nós não podemos deixar que apenas uma visão de mundo circule por esse dispositivo. É muito importante que a esquerda e os grupos todos compreendam as disputas de narrativas, a centralidade delas, e passem a se organizar para fazê-la. Tem toda uma disputa política que está colocada. Não dá para abrir mão desse lugar”, comenta.
A professora da UFC detalha melhor o assunto no Conversa Pública da próxima sexta-feira, 23.
Fonte: CONDSEF