Amor, comprometimento, luta, desafio, empoderamento político e igualdade de gênero. Essas são as paixões e responsabilidades que o serviço público toca em suas trabalhadoras. Diferentemente do que muitos pensam – que a administração pública é um local democrático de trabalho pela igualdade de acesso via concurso público – a injustiça da violência machista ainda consegue invadir este espaço.
De acordo com o Painel Estatístico de Pessoal do Planejamento, do hoje Ministério da Economia, mulheres ainda são minoria entre servidores da União, considerando números de janeiro de 2021. Elas representam 41,5% do quadro federal, apesar de serem mais da metade da população nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os motivos para isso são muitos: menor acesso à educação, mais tempo de dedicação aos filhos e à casa, remunerações menores que dificultam a inscrição aos processos de seleção e outros fatores consequentes do patriarcado histórico. Maria Gizelia Fonseca, servidora da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) do Rio Grande do Norte, lembra que, entre os cargos comissionados de chefia, o número de mulheres é ainda menor. “Precisamos acabar com isso”, enfatiza.
Arlene Silva, servidora do Exército no Rio de Janeiro, concorda com sua colega. “Ainda somos penalisadas por questões machistas e racistas que nos impedem acesso aos cargos de chefia. Ser mulher no serviço público é o desafio de estarmos diariamente lutando contra a indiferença e perseguições que acontecem por sermos mulher”, explica.
Satisfação em servir cidadãs
Os desafios do serviço diário são muitos, especialmente neste momento de pandemia de Covid-19, que ameaça mais fortemente as mulheres. Elas são maioria das trabalhadoras que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus, segundo levantamento da Internacional dos Serviços Públicos (ISP) – dado divulgado como parte da campanha ‘Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas’. Mesmo diante das dificuldades, elas confidenciam sua admiração pelo serviço público.
“Ser mulher servidora pública é fantástico, é muita doação”, diz Elna Melo, servidora da Advocacia-Geral da União de Pernambuco. Com 32 anos de dedicação às cidadãs brasileiras, Elna afirma sem pestanejar que estar no serviço público é a maior e melhor experiência que teve ao longo deste tempo.
Sua companheira Erilza Galvão, servidora da Universidade Federal da Bahia que também coleciona três décadas de dedicação ao Estado brasileiro e suas cidadãs, destaca que a conjuntura atual redobra o trabalho de cuidados sociais, enfrentamento ao assédio e à violencia doméstica.
Engajamento
“Nossa luta é árdua para prestar bom atendimento à população que tanto precisa de serviços públicos, sobretudo as mulheres. Não é facil ser mulher servidora”, compartilha Erilza. Para Rosemary Manozzo, servidora da FUNASA do Rio Grande do Sul, o trabalho das professoras e das enfermeiras neste momento é admirável. “É gratificante saber que temos muitas companheiras que lutam no serviço público por melhores condições de saúde e de educação para nosso povo”.
O empoderamento transborda para uma participação política ampla. As servidoras públicas não têm medo de se posicionar, confiantes da força do artigo 5º da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão de todas. Na luta política, uma coisa parece ser unanimidade, conforme lembra a servidora Ex-Território do Amapá, Neuziana Uchoa: “É preciso votar em mulheres”.
O caminho está só no começo
A desvalorização das trabalhadoras do serviço público é uma realidade que exige envolvimento político cada vez maior. As servidoras públicas da União, que estão em momento de exaustão pelas urgências da pandemia e com os salários congelados há anos, enfrentam a ameaça de serem prejudicadas ainda mais. A PEC Emergencial (PEC 186), aprovada na semana passada pelo Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados, proíbe reajuste de salários, concursos públicos e progressões.
A proposta de Reforma Administrativa em disputa no Congresso Nacional acaba com a estabilidade e aprofunda os obstáculos que as mulheres enfrentam para alcançar a igualdade no serviço público.
Para Jussara Griffo, da FUNASA de Minas Gerais, “o serviço público é essencial para a política das mulheres”, tendo-se em vista que elas são as maiores usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), da educação pública, de creches e outras atividades oferecidas pelo Estado. Qualquer redução de servidores representa impacto direto no atendimento às cidadãs, que dependerão do pagamento à iniciativa privada para ter acesso serviços de atenção básica.
Lutar é necessário
Em sua fala, Jussara pede às colegas servidoras públicas de todo o País engajamento na luta contra a Reforma Administrativa, pela vacinação emergencial ampla e gratuita e em defesa do pagamento de novas parcelas do auxílio emergencial que socorre milhões de mulheres chefes de família do Brasil.
Às trabalhadoras impactadas economicamente pela pandemia, a trabalhadora destaca que o 8 de março representa o início de uma jornada de luta. Suas colegas, diretoras da Condsef/Fenadsef, complementam que a batalha diária não é só pelas pautas das mulheres, mas também pela pauta da classe trabalhadora como um todo, centrada na defesa da vida, da vacina para todos, da segurança alimentar, da democracia, contra retirada de direitos e pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Fonte: Condsef